O número de paulistanos que se deslocam a pé nesta pandemia aumentam.
Essas caminhadas dos paulistanos foram estimuladas pelo medo de contaminação por conta da Covid-19 nos transportes públicos.
De acordo com a pesquisa da Rede Nossa São Paulo, Viver em São Paulo-Mobilidade Urbana, neste ano teve um aumento do deslocamento das pessoas em comparação ao ano passado. Atualmente, 57% das pessoas em São Paulo têm o hábito de caminhar frequentemente parte ou o trajeto inteiro, esse número em 2020 era de 41%.
Já no período anterior à pandemia, em 2017, 45% dos cidadãos em São Paulo se deslocaram a pé. O uso do transporte coletivo em 2021 teve uma queda em comparação a antes da pandemia. Houve um aumento na utilização de transportes públicos na cidade de São Paulo, que de 32% em 2020 (primeiro momento da pandemia), foi para 36% neste ano.
Em relação ao uso dos carros particulares, também houve um pequeno aumento, pois de 28% no ano anterior, passou para 30% este ano, em 2017 o índice chegou à 36%.
Jorge Abrahão, coordenador da Rede Nossa São Paulo, diz que esse novo momento de mobilidade é ditado pelas questões relacionadas à pandemia, tanto a econômica, como a sanitária.
“A gente percebe que o fator econômico atravessa a questão, ele reduz a possibilidade da utilização do carro para quem desejaria usar e, na questão do ônibus, ele é um empecilho em relação ao custo. Por outro lado, aumenta o número de pessoas andando a pé e isso também é um fator econômico, tem um percentual nesse processo das pessoas estarem andando a pé porque evidentemente não existe custo nisso.”
O ônibus municipal é o meio de transporte mais utilizado pelos paulistanos, cerca de 32% das pessoas utilizam esses ônibus frequentemente. Entretanto, o risco sanitário na lotação de veículos foi acentuado na pandemia.
“A lotação é o que apontam como principal problema, além da frequência dos ônibus, a espera ainda é muito grande, e a higiene, que era um fator que antes da pandemia não existia e que hoje é apontada como um fator negativo em relação ao transporte coletivo” avalia Abrahão.
A pandemia de Covid-19 é o principal motivo do aumento da utilização dos carros particulares pelos cidadãos de São Paulo. Sendo que este ano 43% dos habitantes passaram a ter esse hábito, em vista que no ano passado esse índice era de 39%. Um outro motivo mais apontado é o cansaço em pegar transporte público lotado, que passou de 20% para 14% no mesmo período.
Dentre os habitantes que que começaram a circular mais pela cidade utilizando carros particulares ou individuais devido à pandemia, a maior parte é das classes A e B, e residentes das regiões Oeste e Central de SP. Já os que continuaram a utilizar o transporte público são em grande maioria das classes C, D e E e autodeclarados negros.
Preço do combustível
Apesar do maior motivo do uso dos carros particulares ser a pandemia, levantamento aponta que houve crescimento considerável das citações indicando o preço do combustível como razão para a diminuição do uso dos carros particulares no último ano. 35% das pessoas apontaram ser esse o motivo do uso do carro este ano, esse índice era de 4% no ano passado. E 11% disseram ser a necessidade de economizar dinheiro.
2/3 dos usuários informaram que deixariam de usar o carro se houvesse boas alternativas no transporte público da cidade. Outros motivos para essa mudança de hábito e aumento na utilização de transporte público são mais linhas disponíveis, uma maior higienização frequente dos coletivos, e também redução de tempo na espera dos ônibus.
“Os ônibus estavam lotados, então o transporte coletivo foi um vetor efetivamente de contaminação nesses processos da pandemia, porque a lógica do transporte coletivo ainda é uma lógica de demanda: os ônibus lotam para serem mais, entre aspas, eficientes. E, no momento de pandemia, a lógica deveria ser outra, deveria ser da preservação da vida, do isolamento, de dificultar a contaminação”, disse Abrahão.
Segundo Abrahão, deveria ter um limite na lotação dos ônibus, e também disponível uma frota maior de ônibus, para assim os veículos passarem com mais frequência nos pontos. De acordo com os passageiros o principal problema que tem que ser resolvido é a superlotação dos coletivos, em seguida o preço da tarifa e a frequência dos ônibus.
“São desafios que se colocam para as cidades. Em momentos como esses, como é que você redireciona contratos, redesenha contratos que são feitos para um determinado momento, mas que diante de um processo de pandemia têm que ser revistos e adaptados rapidamente em função da qualidade de vida e da preservação da vida da população”, completou.
Redução no tempo de viagem dos ônibus
A redução no tempo do trajeto dos coletivos foi apontada em pesquisa como aspecto positivo, em 2017 o tempo médio de deslocamento era de 2 horas, já em 2021 é de 1 hora e 24 minutos, mesmo retomando as atividades econômicas. Os usuários foram os que mais sentiram essa diminuição no tempo de deslocamento do transporte público.
Sobre a segurança
Mesmo com a disposição dos paulistanos em se deslocarem a pé, grande parte dessas pessoas sentem pouca ou nenhuma segurança no cotidiano, como atravessar faixas de pedestres, passarelas, pontes e viadutos, e também considerando as situações das calçadas. 81% desses pedestres pretendem manter esse hábito após a pandemia mesmo com esses problemas de segurança.
A maioria da população paulistana é a favor de construções e ampliações de corredores de ônibus, ciclovias e ciclo faixas, e também da utilização exclusiva de avenidas e ruas destinadas à lazer e circulação de pedestres e ciclistas na cidade. Este ano teve diminuição de 6% para 3% do uso de bicicleta em relação ao ano passado. 3 a cada 10 não usuários de bike começariam a utilizar esse meio de transporte se houvesse mais segurança tanto em relação à assaltos, como em melhor sinalização nas vias da cidade.